Canção da noite versada num lago

Aqueles dois corpos de densidades artísticas guardavam a noite dentro de um lago. Ela era a expressão litúrgica dos interiores que perpassavam na alma de ambos. Sabiam que sua linguagem velhíssima sorvia as falas e as músicas , os desejos e as palavras, a fim de compor versos em abraços.

A celebração arrastava-se nas madrugadas dos dias 11 de cada mês e tinha nos cantos de amanhecer do Sol suas prévias. Ele colhia beijos escondidos dentro de cada flor para estralar no ouvido dela e assim, despertá-la de suas pálpebras dormentes.

E no canto de despertar da Lua, os corpos amantes partiam para o encontro da textura verde da grama. Ali, taças de vinho seco e um grande pote de mel os convidavam para oferecerem um ao outro.

E assim fizeram.

Suas bocas eram bebidas pelo vinho,
intercaladas de xêros no cangote,
embriagadas pelo cheiro das uvas.

Seus lábios eram alimentados
por beijos com gosto de mel,
portas para os caminhos dos corpos.

Enquanto as estrelas bordavam o manto negro do céu, os dois despiam de suas vestes para colocarem o tecido da alma.

Nus.
Cobertos de estimulações, envoltos de possibilidades.

Colocaram seus pés na água e mergulharam na noite.
Seus corpos [num abraço] deslizavam sobre o silêncio, provocando a entrega dos beijos para a dança dos suspiros

[sons que só tinham sentido na noite, quando um entrava dentro do outro]

Por momentos, a noite pode ser apenas uma canção de dois corpos abraçados. Momentos que não pediam pelo seu término, porque ali, nas águas negras, caiu um pedaço da Lua.

Comentários

  1. Texto lindo, Pâmela. Suave, sensual, poético e breve. Dá gosto de ler. A partir de hoje serei um leitor assíduo do blog. Você vai longe, guria. Saudades.

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  2. Caraka!!!!

    além de tirar fotos vc também escreve?!
    Nossa!!!!

    Gostei muito do texto, realmente muito poético com muitas imagens belas...

    Suas bocas eram bebidas pelo vinho.

    UAL!!!

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