Essa tal de Esperança

Ontem, Hoje, Sempre, de Anderson Augusto e Elda Broilo

Queridas e queridos,

O mês de fevereiro e alguns dias de março serão feitos de uma felicidade significativa: hei de partir nesta semana para o Rio de Janeiro, para participar de um estágio de vivência em acampamentos ou assentamentos do MST. Serão dias de recolhimento, de pôr na reflexão a minha caminhada, de conhecer lavrandeiras e lavrandeiros, de escutar histórias de insistências e de coletividade, de re-inventar as Saudades, de costurar-me pela estrada. Neste tempo, irei me ausentar dos blogs, das redes sociais, dos e-mails, do celular. Logo abaixo, a carta de intenção que redigi para a seleção do EIV. A vocês, que o mês de fevereiro re-faça Sóis e chuvas fresquinhas! Um abraço!

Carta de intenção – EIV/RJ 2011

Novembro de 2010

Somos todos sem terra. Todos os sem terra somos nós. Ali nas estradas, somos nós. Marchando,desatando nós. Pois se sem terra nada somos, sem os sem terra que será de nós?

Mauro Luis Iasi



Posta as intenções num escrito, as motivações, que nascem da vontade de dizer, se multiplicam e percorrem a caminhada militante, a memória de companheiras e companheiros e as lutas construídas no suor das Utopias. Participar de um Estágio Interdisciplinar de Vivência é uma possibilidade traçada desde 2008, ano de ingresso na universidade. Para fevereiro de 2011, a proposta era de participar do II EIV/RS, no entanto, a data (16 de fevereiro à 7 de março) não costurou com as férias do trabalho e com as atividades pastorais, como a Romaria da Terra. Com este impasse, as expectativas se aglomeram em torno da possibilidade de participar do estágio no Rio de Janeiro.

Colocada um dos porquês em participar do EIV/RJ, parto para as outras motivações, motivações estas que se costuram com os retalhos da caminhada que até o momento foi trilhada. Não é possível dizer que é somente minha caminhada, pois além de ter uma vida partilhada com uma irmã gêmea, o meu projeto de vida, ao longo das descobertas da militância social, foi comungado por e com outros projetos de vida, de companheiras e companheiros, tornando-se um projeto de vida coletivo, que quer a vida na insistência de lutar, na gratuidade da resistência e na esperança de transformar, com rebeldia, criatividade e solidariedade, o mundo. Acredito que este estágio possibilitará um enraizamento neste projeto de vida, bem como um enraizamento da mística que fez nascer a Teologia da Libertação. A realidade dos movimentos sociais do campo encanta aquelas e aqueles que constroem suas vidas na luta encarnada e libertadora do povo.

Enquanto estudante de Licenciatura Plena em História (6º semestre) e educadora informal, acredito que a formação não se restringe a academia, mas sobretudo são os movimentos e pastorais sociais que formam um/a educador/a engajado/a, de intervenção. O EIV, enquanto instrumento pedagógico, permitirá conhecer melhor uma das matrizes pedagógicas intrínsecas ao MST, a pedagogia da luta, ou seja a educação voltada para a construção de sujeitos históricos, coletivos e comprometidos com a transformação da realidade social. Estar junto de uma família sem terra, conhecer o cotidiano, representa me construir na pedagogia da luta social e intervir, posteriormente, nos espaços de educação informal e formal que atuo e no espaço acadêmico para contribuir com a formação de meus colegas.

Enquanto militante da Pastoral da Juventude, desde 2004, a experiência do EIV contribuirá para a construção das atividades diocesanas e pastorais, especialmente no ano de 2011. O trabalho de nucleação e assessoria dos grupos de jovens das comunidades eclesiais de base e a construção de escolas da PJ, voltada para despertar da indignação e para o próprio trabalho pastoral, perpassa pela vivência em outras realidades, pois estas permitem a percepção para as contradições sociais do país. No caso do estágio, acredito que permitirá pisar no chão, conhecer melhor a realidade agrícola e agrária, a relação do campo e da cidade e especialmente a percepção de novos elementos para a construção de um Projeto Popular para o Brasil.

O EIV também possibilitará novas ideias para as atividades da Campanha Nacional Contra a Violência dos Jovens a serem realizadas no próximo ano, na minha cidade – Caxias do Sul – e no meu estado – Rio Grande do Sul. Umas delas passa pela construção do Grito dos Excluídos e a outra será numa escola pública, com a temática da violência urbana perpassando pelas matérias de ciências humanas e com tardes de oficinas práticas (stencil, customização de camisetas, grafite ...) para a comunidade escolar.

Dita as motivações no que tange a formação profissional e o trabalho pastoral, um outro aspecto é o de potencializar a relação orgânica do movimento estudantil na universidade que atuo (Universidade de Caxias do Sul) com os movimentos sociais. Participei do Centro Acadêmico dos Estudantes de História durante duas gestões, uma delas como 1ª coordenadora e atualmente contribuo para o Coletivo de Mulheres da UCS. A realidade de universidade particular dificulta ainda mais o Movimento Estudantil, já que a lógica da privado prevalece com mais força e grande parte dos estudantes são trabalhadores. Participar do EIV representa fortalecer o ME dentro do ensino privado, intervir com o combate às opressões e sensibilizar a comunidade acadêmica que a Reforma Agrária é uma luta de todas e de todos.

Por fim, outras duas motivações são a de multiplicar as ideias na intervenção artística, já que trabalho também com a customização de camisetas, o stencil, a confecção de faixas, bandeiras e estandartes para as Pjs, para a MMM (Marcha Mundial das Mulheres) e o acompanhamento de grupos de jovens no que tange a geração de renda através do artesanato. A outra motivação é a da pedagogia da cooperação, presente na realidade dos acampamentos e assentamentos do MST e também na partilha de vida e de luta dos estagiários e estagiárias.

Para encerrar, na grande expectativa de participar do EIV/RJ e dele aquecer a caminhada com o calor das Utopias dos Sem Terra, uma frase dos Zapatistas, que soa feito mantra, que se veste de esperança e que dança a ciranda rebelde e criativa da revolução do povo: a luta é como um círculo, pode começar em qualquer ponto, mas nunca termina.

Um abraço na Esperança,

Pâmela Cervelin Grassi, recém 21 anos completados.

Comentários

  1. Um abraço na Esperança e em ti também.

    Que tua experiência seja uma de fé, paz e sabedoria e que te faça crescer além dos limites da cabeça, para tocar o fundo da alma.

    Beijo

    Cristina DeSouza

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  2. Bravo, pâmela!
    Bravo!
    Bravo!
    Assim é que se faz a vida valer a pena!
    Seja muito feliz nessa missão... Muito!
    Abraço apertado, querida!

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  3. É isso aí, minha querida!!! Siga sempre conforme os seus sonhos e voe muito alto sem medo de ser feliz!!! Felicidades, muitas felicidades!!!

    Beijos de passarinho!!!

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  4. Pam,
    boa viagem e que consiga receber na medida que der.
    nem imagina quão honrada fico por a ter entre as minhas amigas virtuais.
    com a sua permissão e devidos créditos vou levar a citação Do Mauro Luís Iasi que tem no início da sua carta de intenção.
    beijo, querida, no coração.

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  5. Boa sorte! Espero que as experiências novas te enriqueçam com o que houver de melhor! Entenda o mundo e nos conte de sua compelxidade!
    Abração

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  6. Um abraço na esperança *.*

    Pâmela boa sorte!
    Tenho certeza que vai se enriquecer muito por lá, e nos trazer mais lindas e tocantes palavras!

    Grande Beijo!

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  7. é um alento de pura luz acompanhar teus belos passos. levas a energia de mil sóis por onde caminhas. amor força e toda a alegria e profundidade que mereces em todo teu caminho. sigo com o coração juntinho. quando voltar quero te ver e saber de toda essa linda experiência. amor e saudades gostosas

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  8. Sempre digo que a Esperança vem mesmo do verbo esperar.
    E esperar, é quase sempre preciso... e recompensado.

    Abraços, flores e estrelas...

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  9. A beleza existe em tudo - tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la."

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