Aveludar-se em patas e leite


Tem memórias que recusam a gaveta e insistem cotidianamente em serem re-vividas. Uma destas memórias traz na sua textura e no seu espreguiço a suavidade de dias rogados à veludez do leite de vaca e à maciez dos edredons. Assim como há cinco, dez, quinze anos atrás, a horta torna-se uma grande floresta de chuchus, milhos e pé de alfaces para os gatinhos. Suas patinhas aveludadas correm de um lugar para outro, ora para abandonar o sol debaixo das árvores frescas, ora para cruzar o ar ao deparar-se com atrativos alimentares. No encerrar da tarde, voltam-se para a busca de braços afetuosos, a fim de depositarem toda sua maciez de seus corpos. Muitas as manhãs que as pálpebras preguiçosas despertaram com a Mima, o Bichento, o Pé de Vento roçando seus focinhos no meu rosto. Se num salto entregam-se aos lençóis mornos, no esticar de suas patas pressionam-as no colchão. Memórias muitas que, à mercê destes pêlos felpudos não resistem em amanhecer tantas outras vezes.

Pâmela Grassi,

Comentários

  1. Tão lírico, Pâmela! E tão verdadeiro.

    Um beijo.

    Cristina

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  2. Memórias muitas que, à mercê destes pêlos felpudos não resistem em amanhecer tantas outras vezes.

    Que lindo Pâmela *.*

    Estava com saudade de me perder por aqui, poético seu texto, essa frase me fez suspirar de poesia.

    Grande Beijo.

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